Índice é aferido na comparação com o ano anterior. Embora animados, empresários do setor veem o resultado com cautela
A sensação de crescimento no mercado imobiliário pode estar começando a dar seus primeiros passos mais largos. Dados divulgados pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) apontam que o panorama é de consolidação do setor. As vendas de imóveis cresceram 3,9%. Já no acumulado do período de janeiro a maio de 2018 em relação a iguais meses do ano anterior, observou-se que as vendas registraram incremento de 1,63%.
De acordo com a Pesquisa do Mercado Imobiliário, realizada pela Bureau de Inteligência Corporativa (Brain), foram vendidas 291 unidades residenciais novas em Belo Horizonte e em Nova Lima, na região metropolitana, em maio, incremento de 3,9% em relação ao mês anterior, quando foram comercializadas 280 unidades. O resultado é o segundo melhor do ano, ficando atrás somente de fevereiro, com 316 unidades. “Estamos tendo uma pequena recuperação. Se a gente olhar o começo de 2017, foi até satisfatório. No segundo semestre, os números foram bem piores. O que se nota é a diminuição de ritmo no fim do ano passado, que foi a curva descendente das vendas e dos lançamentos. Já este ano, começamos com retomada e o período de janeiro a maio superou o mesmo período do ano passado. Isso animou um pouco o setor”, comenta José Francisco Cançado, vice-presidente da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
Maio foi o segundo mês consecutivo de incremento nas vendas, que cresceram 237,3% em relação a março. Em maio, a Região Noroeste, com 129 unidades, foi a que registrou o maior número de vendas, seguida pela região do Barreiro (42 unidades) e Pampulha (37 unidades). O padrão standard, com faixa de valor entre R$ 215 mil e R$ 400 mil, foi o tipo de imóvel com o maior número de vendas (169 unidades). Porém, o número de unidades lançadas em maio caiu 6,3% em relação ao mês anterior. Isso significa que foram lançadas 164 unidades no mês, enquanto, em abril, foram 175 unidades. Como as vendas atingiram 291 unidades, observou-se que, pelo segundo mês consecutivo, as vendas foram superiores aos lançamentos. Com isso, o estoque final de unidades novas disponíveis para comercialização alcançou 3.785 unidades, o que representa queda de 3,2% em relação ao mês anterior e o menor patamar da série histórica observada pela pesquisa desde 2015.
“Temos de olhar, no caso, um período um pouco maior. Se compararmos os primeiros cinco meses de 2018 com o mesmo período de 2017, houve acréscimo substancial. Tivemos 216% de aumento de lançamentos. Essa diminuição pontual de um mês para o outro é normal. Às vezes, coincide que, naquele mês, um empreendimento não ficou pronto para lançamento, por exemplo”, afirma.
Segundo José Francisco Cançado, essas estimativas mostram que, do segundo semestre do ano passado para cá, houve um certo ânimo do mercado, uma perspectiva positiva de que a economia se retomaria. “Havia uma expectativa de que tivéssemos crescimento do PIB de até 3%, o que não está se confirmando. Mas, naquele momento, isso animou várias empresas a trabalharem seus lançamentos. E lançamento é uma coisa que demora, não é de um dia para o outro. As empresas precisam trabalhar pelo menos um ano até conseguir colocar um novo empreendimento no mercado”, destaca.
A Velocidade de Vendas, que demonstra o dinamismo das vendas em relação à oferta, alcançou 7,1% em maio, também o segundo melhor resultado do ano, ficando atrás somente de fevereiro/18, quando foi de 7,7%. O índice de disponibilidade atual sobre a oferta inicial alcançou 18,6%, demonstrando o baixo patamar do estoque de imóveis novos em Belo Horizonte e Nova Lima.
Em maio, o preço médio por metro quadrado (m²) de unidades residenciais ficou praticamente estável em relação ao mês anterior. Enquanto em abril o preço médio por m² correspondeu a R$ 8.073, em maio, foi de R$ 8.068 (queda de 0,06%). Do total das 3.785 unidades disponíveis para vendas, 1.328 (35,1%) são do padrão médio, com faixa de valor de R$ 400 mil a R$ 700 mil.
COMPARATIVOS
“Não está crescendo como esperado, mas também não encolheu” – José Francisco Cançado, vice-presidente da Área Imobiliária do Sinduscon-MG
No acumulado do período de janeiro a maio deste ano em relação a iguais meses do ano anterior, observou-se que as vendas registraram incremento de 1,63%, ao passar de 1.102 unidades (janeiro a maio/17) para 1.120 unidades (janeiro a maio/18). Foi a primeira vez este ano que as vendas acumuladas registraram resultado positivo na comparação com o ano anterior. Demonstra que, efetivamente, o segmento imobiliário de Belo Horizonte e Nova Lima apresentou resultados mais satisfatórios este ano. Os melhores resultados do segmento também podem ser observados no expressivo incremento dos lançamentos.
Enquanto nos primeiros cinco meses do ano passado foram lançadas somente 287 novas unidades residenciais, em iguais meses deste ano esse número foi de 909 unidades (alta de 216,72%). “Acredito que, até as eleições, nosso mercado estará um pouco indeciso, uma vez que ele é muito atrelado à economia. Estamos vendo o mercado acionário cair e o dólar subir. Isso reflete o nervosismo do mercado. E quando isso ocorre, o setor imobiliário também acaba sofrendo um pouco, porque as pessoas ficam indecisas. Mas pode, em algum momento, ter um movimento de compra. As pessoas começam a migrar para um ativo real, elas podem preferir deixar o dinheiro em imóveis do que aplicado em banco”, pondera José Francisco.
As vendas em 2018 continuam superando os lançamentos. Enquanto de janeiro a maio foram vendidas 1.120 unidades, os lançamentos, nesse mesmo período, totalizaram 909 unidades. Com esse resultado, o estoque de apartamentos novos nas cidades de Belo Horizonte e Nova Lima sofreu retração de 9,41% ao passar de 4.178 unidades em maio/17 para 3.785 unidades em maio/18, o menor patamar da série histórica. Com o estoque em queda, o preço médio das unidades residenciais novas nesse período cresceu 2,57%, enquanto o IPCA/IBGE, indicador oficial de inflação no país, registrou alta de 1,33%. Portanto, o preço de apartamentos cresceu, em termos reais, 1,22%.
Nesse contexto, deve-se ressaltar que o preço dos imóveis pode registrar incremento ainda maior, caso seja aprovado o Plano Diretor de Belo Horizonte, que está em análise na Câmara Municipal e que estabelece um novo imposto para a construção: a outorga onerosa. “Acho que os empresários estão observando. Caso as eleições tenham um vencedor pró-mercado, os empresários vão se animar. Caso contrário, acredito que ficará todo mundo com o pé no freio. Ainda temos uma interrogação, que é o Plano Diretor de Belo Horizonte, que vai ser muito ruim para a cidade. Esse projeto de lei está na Câmara Municipal e deve ser votado até o fim do ano, e a gente espera que ele não seja aprovado, porque, se passar, será muito ruim”, analisa.
EXPECTATIVAS
A comparação isolada dos dados de maio com igual mês do ano anterior também evidencia resultados mais positivos em 2018. Nesse período de análise, observa-se incremento de 216,30% nas vendas, ou seja, enquanto em maio/17 foram vendidas 92 unidades residenciais novas, em igual mês de 2018 foram comercializadas 291 unidades. O número de lançamentos também apresentou incremento expressivo: 556%, passando de 25 unidades lançadas em maio/17 para 164 em igual mês de 2018.
Nessa base de comparação, em função de as vendas serem superiores aos lançamentos, observa-se queda de 9,41% no estoque de unidades novas disponíveis para comercialização e aumento no preço. “O mercado acaba paralisando. Até maio, ele até que andou bem razoável, mas quando saírem os números de junho e julho, vamos ver que vai ter uma retração, tanto de lançamentos quanto de vendas. Isso só vai normalizar mesmo depois das eleições.”
Para José Francisco Cançado, o mercado está em dúvida, não está crescendo como esperado, mas também não encolheu. “Acho que está numa estagnação, exatamente para esperar a definição destas eleições. Acho que mais 60 dias até chegar esse período, isso vai se dissipar. Apesar da maior instabilidade gerada no país com a greve dos caminhoneiros em maio, que acrescentou mais incertezas ao cenário nacional e muito contribuiu para a redução do ritmo de recuperação da economia, o mercado imobiliário continuou mostrando reação e registrou resultados satisfatórios”, finaliza o vice-presidente.
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